Olá pessoal, tudo bem? No post de hoje, venho comentar sobre a minha experiência de leitura com o livro “Liturgia do fim”, escrito pela paraibana Marilia Arnaud e publicado em 2016 pela
Editora Tordesilhas.
“Voltei para juntar os cacos dos dias partidos, manchados de terra e sangue, para recolher fragmentos de vidas atrás das portas fechadas e, com mãos pacientes, compor o mosaico de ontens irrevelados.” (página 74)
No livro, Inácio conta a sua história. Ele era um escritor que deixou mulher e filha na cidade e voltou para Perdição, povoado onde nasceu e morou até mais ou menos os dezoito anos, quando foi expulso de casa pelo pai. No decorrer dos capítulos, vemos que a infância de Inácio teve seus momentos bons: o carinho da mãe, a vida simples do interior, a diversão com as irmãs e o primo, mas toda essa infância e adolescência estavam sob o peso do autoritarismo do pai, um homem que causava medo nos filhos e em que nenhum momento parecia demonstrar gostar de Inácio. Qual o motivo do desprezo do pai pelo filho? Será que, ao voltar após mais de trinta anos longe da casa da família, Inácio conseguiria entender isso e superar a “violência” da falta de amor paterna que marcou toda a sua vida? Ou o leitor descobrirá que a causa do desajuste de Inácio é outra?
“Em nome desse Deus e amparado em lendas bíblica, alegorias crísticas, salmos, versículos, novenas, terços, penitências, criaste teus filhos com severidade e frieza, mas comigo, pai, especialmente comigo, por razões que me eram obscuras, ias além” (página 67)
“Liturgia do fim” tem uma escrita bem elaborada, a autora desenha com as palavras, usa de simbologias e faz muitas referências, é uma escrita quase poética, proporcionando uma leitura fluida. Por não ter um elevado número de páginas, pode ser lido rapidamente.
O narrador é um personagem que desperta sentimentos controversos. Inácio é imperfeito e fez muitas coisas condenáveis (não me refiro ao “segredo” dele, mas sim a suas atitudes, especialmente no casamento), por outro lado, a forma como seu pai tratava a família, algo que infelizmente não é exclusivo da ficção, e os dramas pelos quais Inácio passou, talvez justifiquem um pouco a sua “melancolia”, a sua falta de rumos e o fato de deixar que os outros, ilusoriamente, decidissem por ele. Inácio sofreu, isso é inegável, e passou por uma situação bem polêmica que transformou-o em uma pessoa incompleta, marcada. Não contarei que situação foi essa, mas foi algo de que suspeitei desde antes da confirmação na leitura.
Um ponto que me agradou enquanto lia, foi a descrição na vida do interior; eu morei na roça durante uma parte da minha vida, então, era encantador ler sobre a natureza, os animais e a produção do mel e o manejo das abelhas (área em que minha família também atuou). Acredito que a autora deve ter feito uma boa pesquisa para escrever sobre o tema com propriedade.
Sobre a edição: a capa, com essa representação de uma casa simples, me agradou; as páginas são amareladas, não encontrei erros de revisão e a diagramação traz margens, letras e espaçamento de bom tamanho.
Enfim, agradeço à editora Tordesilhas por ter enviado o livro para resenha no blog e recomendo a leitura de “Liturgia do fim”, pois vocês merecem conhecer a bela escrita de Marilia Arnaud, uma escritora brasileira de quem já me tornei fã. Ressalto que a obra aborda um tema polêmico, que pode chocar algumas pessoas, mas certamente se tornará uma leitura marcante, pelos seus cenários e personagens.
“Eu só queria sonhar, pai, e sonhar ainda, e sonhar sempre, porque o homem, quando sonha, é um deus, é não é nada quando usurpam a única coisa que redime toda a miséria humana, o mel da vida. Pois não foste tu que inventaste as abelhas tão somente para sonhar, pai?” (página 86)
Por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: já conheciam o livro ou a autora?
Até o próximo post!
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